Fauna

Lobo Ibérico (Canis lupus signatus) – O “animal feroz” de tantas histórias, lendas e mitos!

O lobo ibérico é uma subespécie do lobo-cinzento, sendo mais pequeno que este e com uma tonalidade de pelagem mais amarela/acastanhada. O seu habitat é na Península Ibérica. Em tempos idos era muito abundante, quer em Portugal, quer em Espanha, mas actualmente estima-se que existam cerca de 3.000 exemplares, dos quais 300 no Norte de Portugal. Organizam-se em alcateias compostas por grupos familiares, com uma grande hierarquização. As alcateias são normalmente compostas por 3 ou mais lobos, podendo chegar a cerca de 10, sendo que o casal alfa é o casal reprodutor. Organizados nestes grupos defendem o território e caçam. A reintrodução de veados e corços é muito importante para estabilizar a população dos lobos, assim como a salvaguarda de refúgios adequados à sua protecção. Em busca das presas, podem percorrer entre 20 e 40 Kms por dia, no seu território, preferencialmente durante a noite.

O acasalamento ocorre entre Março e Abril. Após o nascimento das crias, a fêmea e estas mantêm-se na toca até que termine o período de amamentação. Todos os membros da alcateia partilham responsabilidades perante as crias. Apesar de serem vistos como predadores temerários, os lobos possuem uma vida emocional muito complexa.

O lobo ibérico está classificado como uma espécie “em perigo”, em Portugal. Tem enfrentado muitos desafios sobretudo motivados pela redução do seu habitat, em consequência da pecuária intensiva, da desmatação e dos incêndios florestais que levam à escassez de alimento e de refúgios para se esconderem, e também pela perseguição humana ilegal de que são alvo. Todavia, apesar de todas essas contrariedades continuam a resistir.

A principal razão para os conflitos com o lobo ibérico tem a ver com a sua coexistência com o gado e com o urso pardo dentro da mesma região/território. Apesar de várias campanhas de sensibilização, uma grande parte dos produtores de gado ainda não se adaptou a viver lado a lado com os lobos. Uma boa forma de proteger é gado é utilizar cães pastores, como por exemplo, o cão de gado transmontano, ou construir cercas para proteger as manadas e rebanhos. Qualquer uma destas soluções são óptimas como protectoras do bem-estar animal e permitem um maior equilíbrio dos ecossistemas.

Ao longo dos séculos, vários contos, lendas, crenças e mitos se foram propagando sobre esse temível “animal feroz”!

Todos nos lembramos das histórias do “lobo mau”, verdade? É no período medieval que o lobo começa a ter uma “má imagem”, conotado muitas vezes como um animal maligno que tudo devorava. A origem disso parece ter estado na Igreja Católica, que atribuía ao lobo uma imagem satânica, o animal que atacava o “rebanho de Deus”. Devido à grande religiosidade das populações que viveram na Idade Média, a fama do lobo rapidamente se espalhou. Por outro lado, os constantes ataques dos lobos aos animais domésticos fez crescer a imagem sombria daqueles. Todavia, convém referir que, essas situações aumentaram devido à má gestão dos recursos naturais por parte do homem, que conduziu a uma redução das presas naturais do lobo. Como consequência dessa coexistência milenar entre lobos e as comunidades agro-pastoris, nem sempre pacífica, surgiram, ao longo dos séculos, várias manifestações culturais e arquitectónicas verdadeiramente únicas e de uma riqueza incalculável. Exemplo disso são os vários fojos do lobo construídos no noroeste peninsular. Estas armadilhas para a captura de lobos eram construídas com duas grandes paredes laterais, numa encosta com algum declive, que depois afunilavam em direcção a um fosso, do qual os animais não conseguiam escapar.

Referir também a doença da “lobagueira” que se transmitiria aos porcos, através do contacto destes com os dejectos ou com a saliva dos lobos. A forma de curar os porcos seria através da ingestão por parte destes de água passada através da “gola do lobo”, uma parte da traqueia do predador.

Histórias de lobisomens, “O lobo e os sete cabritinhos”, “Pedro e o lobo”, “Os três porquinhos”, “O lobo e a raposa” e “O capuchinho vermelho” são apenas algumas das histórias que preencheram o nosso imaginário infantil.

Os lobos representam, mais do qualquer outro animal, o lado selvagem e livre da vida que perdemos e que actualmente procuramos recuperar com um afã que apenas aumenta a artificialidade do que alcançamos. São eles que nos fazem sentir e ver o caminho de que nos desviámos…” (Prefácio de Francisco Fonseca in “Lobos. Colectânea”)

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