A família “Thymelaeaceae” abrange várias géneros de plantas, entre as quais, o trovisco (Daphne gnidium) e a timeleia (Thymeleia broteriana). Existem 17 espécies europeias de Thymelaea.

Timeleia (Timeleia broteriana)

A timeleia (Timeleia broteriana) é uma das pertencentes à família “Thymelaeaceae”. É um arbusto baixo, cuja altura poderá oscilar entre os 20 e os 50 cm que prefere solos secos e fragmentados. Além disso, apresenta ramagem densa, com folhas perenes e lineares, sésseis e não estípulas, muito parecidas com as das urzes, com cerca de 5-9 mm de comprimento e 0,5-1,25 mm de largura. Estas folhas apresentam margens reviradas de tal modo que quase conseguem ocultar a parte superior das mesmas, coberta por uma penuguem de cor branca. As suas pequenas flores são unissexuais, apétalas e com o cálice em expansão nas bordas. Além disso, são autênticos tubos sem pétalas, contendo apenas 8 estames e um estilete. Floresce entre Abril e Maio.

Espécie endémica do Parque Nacional da Peneda-Gerês

Trata-se de uma planta muito frequente em urzais, matos baixos e tomilhais, encontrando-se sobretudo nas serras mais altas do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Além disso, é uma espécie endémica do noroeste peninsular e em Portugal, a sua ocorrência apenas foi verificada no Gerês. Encontra-se, actualmente, protegida por legislação europeia, através da Directiva Comunitária de Habitats.

Trovisco (Daphne gnidium)

A “lenda” do trovisco…

“Daphne era uma ninfa por quem Apolo se apaixonou e dele fugiu. Em busca de refúgio, a jovem pediu a Zeus que a transformasse num arbusto, num loureiro, ou, noutras versões, num trovisco (Daphne gnidium), sendo que «gnidium» advém de «Cnidos», antiga cidade grega localizada na costa da actual Turquia. Numa outra versão do mito, Daphne era filha do rio Ládon, ou do rio Peneu da Tessália, e da Terra. Ao ver-se perseguida por Apolo, implorou ao rio, seu pai, que a escondesse. Ládon transformou-a, então, num loureiro, o emblemático arbusto consagrado àquele deus. Não deixa de ser curiosa esta associação entre a Terra e o Rio do mito clássico e a planta em si, quer esta seja o trovisco, quer seja o seu parente loureiro.”

“Foi em tempos mulher, uma jovem ninfa por quem Apolo se apaixonou. Hoje é um arbusto a perigar na bordadura da extinção…”

Descrição do trovisco

O trovisco (Daphne gnidium) é um arbusto muito comum na região mediterrânea, que se apresenta sempre verde, durante todo o ano e pode atingir entre 1,5 e 2 m de altura. É muito ramificado logo desde a base, com ramos rígidos, mas ao mesmo tempo, flexíveis. Mesmo sem poda forma uma copa arredondada.

A disposição das folhas ocorre de uma forma alternada, de umas em relação às outras. Além disso, são lanceoladas e liniares e terminam numa forma pontiaguda, ligeiramente curvas na extremidade. Possuem glândulas odoríferas. As suas inflorescências, brancas e amareladas, em forma de cachos formam-se por várias flores em forma de tubo e hermafroditas. Exalam um perfume muito agradável. Não possuem pétalas, mas têm 8 sépalas, cada uma com 8 estames. Estão dispostas em posição terminal e desenvolvem-se entre Julho e Outubro. O seu fruto globoso e carnudo, começando na tonalidade verde e, com o processo de amadurecimento, vai ficando com uma tonalidade brilhante laranja-avermelhada até chegar a negro, quando maduro. Estes frutos tornam-se muito apetecíveis às aves, possibilitando assim um aumento da biodiversidade dos jardins onde aqueles se encontram. No entanto, são tóxicos para os humanos. Possuem apenas uma semente em formato ovóide.

Solos preferidos pelo trovisco

Não é muito exigente relativamente ao tipo de solos, preferindo, no entanto, solos secos e ácidos. Propaga-se, não só por sementes, mas também por estacas. Prefere solos pobres, bem drenados e rochosos, sejam básicos ou ácidos e tolera bem as temperaturas negativas. É possível encontrá-lo não só nas orlas dos bosques, mas também junto de cursos de água e em matagais sombrios.

O trovisco na Idade Média e na actualidade

Na Idade Média e até mesmo há um século atrás, as mulheres disfarçavam os cabelos brancos através, não só da infusão, mas também da maceração das folhas de trovisco.

Não só na Antiguidade, mas também na Idade Média, pelo que se sabe, a seiva do trovisco entrava na elaboração de um veneno letal usado para untar as pontas das flechas.

Actualmente, o trovisco é considerado uma planta ornamental devido à sua forma e à tonalidade da sua folhagem. Por causa da desmatação de árvores autóctones para darem lugar às plantações de eucaliptos, o tovisco encontra-se hoje, em Portugal, em perigo de extinção.

Curiosidades

Como curiosidades, o trovisco é utilizado para fazer vassouras, no entanto, é tóxico para a pele, podendo provocar dermatites. E é precisamente devido à sua toxicidade que também é utilizado de uma forma ilegal, na pesca. O acto de pescar com trovisco tinha o nome de “entroviscada”, que era, em outros tempos, convocada pelo mordomo do rei. Ao trovisco juntava-se muitas vezes o perrexil e lançavam-se à água, nas zonas dos rios onde havia muitos peixes. Esta prática medieval acabava por provocar um grande decréscimo de peixes nos rios, pois atordoava os adultos e matava os ovos. Por esse motivo devastador para a biodiversidade dos rios, essa prática acabou por se abolir, legalmente, nos anos 70 do século passado.

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