A azinheira é uma árvore cultivada e espontânea. O tronco não produz cortiça, é diferente do sobreiro. Foi muito útil antigamente, hoje em dia está desprezada, já ninguém se contenta com o pequeno lucro. Nos tempos mais atrasados, quem tivesse um montado destas árvores era rico, porque todos os anos lhe aproveitavam a bolota. Para comer a primeira produção, o dono contratava um porqueiro que andava atrás de uma vara de porcos, magros de início, mas ao fim de três meses, todos estavam a cair de gordos. Eram vendidos um a um e em conjunto, por terras do Norte de Portugal, porque nessas zonas não há azinheiras. Muitas vezes havia a segunda engorda de porcos, porque a bolota sobrava. Era a melhor carne e a mais pura em tudo. Depois veio o ganho fácil, engordas em recintos fechados, farinhas e menos trabalho. Carne artificial e prejudicial à saúde. Mataram a azinheira e o porco preto Alentejano, que era o que comia a bolota no chão, raramente aparece. Dizem que a peste suína ataca mais esta espécie de porcos, será?

Descrição

De tamanho médio em relação a outras árvores. Bem tratada e esgalhada, chegava a atingir uma circunferência enorme, com os seus ramos a crescerem para os lados, com bastantes folhas verdes-claras. O tronco, em parte, coberto por musgos. O seu fruto que vem em Outubro e/ou Novembro é denominado de bolota. É rico em vitaminas A, B.1 e C.

Habitat e localização

A azinheira habita os países mais quentes ou temperados da Europa e Norte de África que circundam o Mediterrâneo. Não gosta do frio. No Alentejo, todas as herdades a possuem ou possuíam, assim como na região da Estremadura.

Curiosamente, além de um excelente alimento para toda a espécie de gado, foi também durante décadas ou séculos o pão dos pobres mais necessitados, que não tinham nada para comer. Eu próprio lhe devo o não ter ficado sem nada para comer várias vezes nos Invernos mais rigorosos. Era a bolota que substituía o pão, por não termos dinheiro para o comprar, comendo-a 3 vezes por dia às refeições habituais, porque o meu pai e outros pobres nada ganhavam, por não poderem trabalhar, e tinham que sustentar os seus filhos que, por vezes, chegavam a ser 8, 9 e 10 ao mesmo tempo a pedirem de comer. Antes do almoço e do jantar, quando havia bolota, a minha mãe cozia uma enorme quantidade. Prato a um e a outro, comíamos tantas vezes bolotas, que às tantas ficávamos enjoados. A ordem era: quem não as comesse, não comia mais nada. Eram cozidas e a gordura via-se na água tal como o azeite. Também as comíamos assadas, embora poucas vezes, e cruas. As bolotas são muito doces e nutritivas, podendo substituir com muita vantagem as castanhas, quando são de variedade cardajola. Porque há várias variedades, e algumas até amargam um pouco, quando cruas. Nós provávamos sempre as bolotas, antes de as apanhar. A minha mãe mandava-me com a minha irmã buscá-las e cada um trazia um cesto cheio delas. Ao fim do dia, havia em casa uma enorme quantidade, que chegava para vários dias. Nós é que as apanhávamos, porque o guarda às crianças não ligava. Se a minha mãe ou o meu pai as fossem apanhar, o guarda participava logo às autoridades.

Aplicações principais

Além das bolotas da azinheira serem um bom alimento como já citei, também os seus musgos são muito úteis para queimaduras, pés assados do suor e outros males idênticos. Suplantam todos os cremes que existam, queimaduras graves ou não. Deitam-se em cima de uma lata, que se coloca sobre brasas de lume, até ficarem quase torrados. De seguida, tiram-se e pisam-se bem ou moem-se. Se seguida, unta-se o local com azeite cru, bem untado, e cobre-se toda a zona afectada com aquele pó com meio centímetro de espessura. No outro dia repete-se o tratamento, mas nada se tira do que foi colocado antes. Fica uma camada escura em cima do mal. Ao fim de poucos dias, a pele cai e fica tudo curado. A sua madeira foi utilizada, durante séculos no fabrico de carroças, churriões e todos os utensílios da lavoura, por ser muito rija, forte e durável. A casca do tronco em cozimento, 100 g por litro, em bochechos, anginas e mal de garganta (leucorreia e metrites, etc.). Ainda a bolota torrada e moída faz um bom café, mais saudável que o outro.

 

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