Existem no mundo cerca de 11.000 espécies de fetos. A sua distribuição é muito vasta, mas a grande maioria encontra-se nas regiões tropicais devido à necessidade de uma elevada humidade ambiental para se reproduzirem. Mesmo aqueles que conseguem adaptar-se a zonas áridas e desérticas, só se reproduzem na presença de humidade ambiental.

Os fetos são plantas que possuem feixes vasculares, que servem para conduzir os nutrientes, a água e a matéria orgânica. Muitos deles desenvolvem as suas folhas de uma forma muito peculiar, em forma de báculo, um típico cajado usado por pastores e também de uma forma simbólica pelos bispos, numa alusão ao seu papel de pastores do “Rebanho de Deus”.

Apresentam uma particularidade muito interessante: apesar de serem plantas de folhagem, não desenvolvem flores nem sementes. Reproduzem-se através dos esporos. São muito utilizados na decoração de interiores, nomeadamente na ornamentação de luxuriantes jardins de inverno. Criam ambientes muito relaxantes e acolhedores. Quando possuem boas condições de luminosidade e de calor, podem crescer ao longo de todo o ano. Gostam de uma boa exposição à luz, mas não directa.

Para um bom crescimento, a temperatura deve situar-se entre os 18 e 24º C, com humidade elevada. Em ambientes interiores é aconselhável que se coloquem os vasos em tabuleiros com seixos húmidos.

Na época vitoriana, os fetos transformaram-se numa verdadeira moda, chegando mesmo a ser uma obsessão (pteridomania), tendo sido muito popular o seu coleccionismo, que era extensivo a todas as classes sociais. Foram editadas centenas de obras sobre a identificação de fetos e manuais de plantação e propagação. Também na área dos bordados vitorianos, os fetos tinham lugar de destaque. Estes bordados serviam para ornamentar vestes femininas e decorar o interior das habitações. Foram também utilizados como modelos em porcelanas, vitrais, papel de parede, ornamentos de edifícios e outras artes decorativas.

O coleccionismo de fetos serviu para a emancipação das mulheres, sendo uma oportunidade para elas ultrapassarem algumas das rígidas normais sociais vitorianas.

A recolha de fetos silvestres era entendida como uma forma saudável de exercício. Por esse motivo, algumas sociedades culturais e filantrópicas da época vitoriana organizavam excursões e saídas de campo para troca de ideias e de espécimes entre académicos e amadores.

Os coleccionadores organizavam os fetos de várias formas: prensados em álbuns, emoldurados para estarem expostos nas habitações ou vivos em pequenas estufas, junto de janelas ou varandas.

Créditos foto: timeleia.com

Os registos mais antigos destas ancestrais plantas vasculares remontam ao Devónico (360 milhões anos).

O nome científico da avenca-das-fontes (Adiantum capillus veneris), um tipo de feto ornamental da época vitoriana, tem a sua inspiração nos cabelos da deusa Vénus. Este feto utiliza-se como ingrediente do capilé, um xarope português com origem no século XVIII. Nos açores, usa-se o feto-do-cabelinho (Culcita macrocarpa) para encher colchões. Referir ainda que há duas espécies comestíveis: o Osmunda cinnamomea (feto-canela) e o Diplazium esculentum.

Ao longo dos séculos, os fetos foram vistos como plantas enigmáticas. Até chegou a circular uma história acerca de uma espécie lendária que produzia sementes especiais que tornariam invencível quem as encontrasse. Essa tradição foi referenciada numa obra de William Shakespeare: “possuímos o segredo da receita das sementes de feto, que nos permitem andar sem sermos vistos”.

Na iconografia cristã, os fetos representavam o sentimento da humildade, numa clara alusão ao ambiente discreto e sombrio onde crescem e ao seu pequeno porte. Plínio, o Velho, na sua obra História Natural (livro 27, capítulo 55), referiu que os fetos afastavam as cobras. Terá sido com base nesta crença que, mais tarde, os fetos se tornaram símbolos da Salvação, num claro antagonismo com as cobras, os símbolos do mal.

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